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Arquitetos: tescala
- Área: 900 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Leo Espinosa
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Fabricantes: Aluplast, BOSE, Canterland, Chukum, Escenium HAUS, Flos, Insteon, LG Electronics, SONOS, Teka, VALVO
Descrição enviada pela equipe de projeto. A arquitetura é uma reconfiguração da natureza. Na residência Chaaltun essa conformação é encontrada através das evocações do rico contexto natural e cultural que tem a península do Yucatán no México, com a intenção de que o uso de materiais naturais desafie a ideia pré-concebida que se tem sobre eles.
O programa foi dividido em três áreas: privada, social e de serviço. Assim, a volumetria corresponde a essa classificação. Existem quatro volumes tecidos por um eixo longitudinal que são a espinha dorsal do projeto. Dois deles são sólidos e se localizam ao sul e oeste, resolvendo a privacidade do programa e a incidência solar. Essa configuração estratégica protege os espaços interiores, ao mesmo tempo em que permite sombrear o resto do terreno. Os outros dois volumes são permeáveis e flutuam em um segundo nível, gerando um pé-direito duplo para o espaço no térreo que se abre para o noroeste.
A tipologia dos volumes está caracterizada pelo tratamento das suas fachadas. Os sólidos são constituídos por uma série de muros com diferentes planos que permitem a iluminação sem ganho térmico e, ao mesmo tempo, ventilação cruzada em todos os espaços. Ao contrário, os volumes flutuantes surgem da repetição de placas de mármore orientadas de forma que admitam a entrada de luz natural enquanto mantem sombreado o espaço interior.
A fachada pétrea foi em si um desafio de desenho, cuja solução imprime caráter e identidade à casa: um sistema de 586 peças verticais, cada uma com duas placas de mármore sustentadas por um elemento de aço. Cada uma dessas peças tem dois parafusos de segurança e encontra-se soldada a estrutura de aço que define os volumes sociais. Sua iluminação está inspirada na luz da lua, pois foi pensada como uma grande superfície indireta; cada peça ilumina a adjacente, refletindo sua luz sobre o mármore.
A solução volumétrica está acompanhada por uma série de vazios: quatro espaços que abrem-se e têm seus interiores ampliados. Além de assumir um papel funcional, esses são lugares onde as referências naturais e culturais do espaço são expressadas, gerando a identidade local da Casa Chaaltun.
É representativo da Península de Yucatán a existência de grandes árvores tropicais com raízes tabulares e poços naturais cristalinos chamados de cenotes (dzonoot em maia); esses poços naturais são de incrível beleza e se caracterizam por seu frescor; sua água cristalina permite ver os tons escuros da pedra. A piscina da Residência Chaaltun evoca a sensação de um cenote ao estar rodeada de arquitetura pétrea e recoberta no fundo por granito que ressalta os azuis e verdes profundos da água. Os álamos do terreno, por sua vez, indicam a presença de um cenote, pois no seu estado natural são vistos como sua antessala; por isso, um deles é plantado no meio de uma grande contenção de pedra, sendo o pátio de acesso da residência.
É comum da paisagem yucateca observar muros e pedras que oxidam, criando uma cor vermelha intensa; um dos pátios foi desenhado de maneira que remetesse a essa cor, através dos muros de concreto pigmentado, acompanhados por um chaká (árvore endêmica da região conhecida por sua casca avermelhada). Outra árvore endêmica da região presente no terreno é o jabín (habín em maia), peculiar porque muda de cor conforme a estação. Ao redor dessa árvore, desenhou-se o hall do dormitório principal e um terraço coberto no nível superior, que desfruta da sua sombra.
Essas distintas reinterpretações dos referentes naturais foram concretizadas em cada espaço, pensando na linguagem comum, no bem-estar dos habitantes e nos diferentes graus e tipos de abertura. Assim, a residência Chaaltun é a concatenação de limiares (cozinha-bar-social-piscina-terraço-jardim) que terminam em um visual estendido (campo-lago-campo-selva).
Originalmente publicado em Novembro 22, 2017.